quarta-feira, 1 de outubro de 2008

O Núcleo do Amor

E foi Ananda, o assistente pessoal de Buda, que se dirigiu ao mestre e perguntou:
- Não é verdade que três quartas partes da vida devem ser a santa amizade?
E Buda retorquiu:
- Não, Ananda, não, as quatro quartas partes da vida devem ser a santa amizade.

A vida sem amor, amizade, boas relações afectivas, benevolência e entrega incondicional perde parte do seu sentido e pode converter-se num baldio. Não é fácil, no entanto, estabelecer vínculos afectivos consistentes, nem desenvolver uma atitude de amizade incondicional e amor desinteressado, porque para isso é preciso ir-se libertando das grilhetas do ego. A partir do ego, surgem linhas paralelas que não se encontram; a partir do ser, surge outro tipo bem diferente de comunicação, ou inclusive comunhão. As atitudes demasiado egocêntricas e as tendências compulsivas de afirmação do ego, não só ressentem todo o tipo de genuína relação afectiva, como impedem os laços saudáveis e livres. Também a amizade exige os seus requisitos e tem as suas leis, assim como qualquer verdadeira actividade e ou baseada no egoísmo ou no perverso utilitarismo. O sentimento de amor adquire muitas e múltiplas manifestações, mas seguramente a mais bela, quando realmente o é, é a amizade. Esta amizade não é incomparável nem mesmo com o amor do casal, e quando a verdadeira amizade existe, a relação sentimental pode acabar, mas permanece a amistosa.