quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

SE NÃO HOUVER AMANHÃ...



Sabe, eu que costumava deixar
muitas coisas para amanhã, resolvi
lhe dizer, hoje, o quanto você é
importante para mim, porque quando
acordei pela manhã uma pergunta 
ressoava na acústica de minha alma:
(e se não houver amanhã?)

Então hoje eu quero me deter um pouco
mais ao seu lado, ouvir suas idéias com
mais atenção, observar seus gestos mais 
singelos, decorar o tom da sua voz, seu 
jeito de andar, de comer, de abraçar.

Porque... se não houver amanhã...eu quero
saber qual é a sua comida preferida, a 
música que você mais gosta, a sua cor predileta...

Hoje eu vou observar seu olhar, descobrir
seus desejos, seus anseios, seus sonhos mais
secretos e tentar realizá-los.
Porque se não houver amanhã... Eu quero ter
gravado em minha retina o seu sorriso, o seu
jeito de ser, suas manias...

Hoje eu quero fazer uma prece
ao seu lado, descobrir com você
essa magia que lhe traz tanta 
serenidade, quero subir aos céus
com você, pelos fios invisíveis da oração...

Hoje eu vou me sentar
com você na relva macia,
ouvir a melodia dos pássaros
e sentir a brisa acariciando
meu rosto, colado ao seu,

Hoje eu vou lhe pedir um 
favor, agradecer, me 
desculpar, pedir perdão,
se for necessário.
Sabe, eu sempre deixei 
todas essas coisas para
amanhã mas o amanhã é
apenas uma promessa...
o hoje é presente.

Assim se não houver amanhã eu 
quero descobrir hoje qual é a flor
que mais gosta e lhe ofertar um
belo ramalhete.
Quero conhecer seus anseios, lhe
aconchegar em meus braços e
lhe transmitir confiança...

Hoje quando você se afastar
de mim, vou segurar suas mãos
e pedir para que fique mais um
pouco ao meu lado.

Sabe eu sempre costumo deixar as
palavras gentis para dizer amanhã,
carinho para fazer amanhã, muita
atenção para prestar amanhã, mas o
amanhã talvez não nos encontre juntos.
Eu sei que muitas pessoas sofrem quando
um ser amado embarca no trem da vida 
e parte sem nenhuma chance de dizer 
o que sentem, e sei também que isso é
motivo de muito remorso e sofrimento.

Por isso eu não quero deixar
nada para amanhã, pois se, o
amanhã chegar e não nos 
encontrar juntos, você saberá
tudo o que sinto por você e
saberei também o que você 
sente por mim
Nada ficará pendente...

Quero registrar na minha alma,
cada gesto seu.
Quero gravar em meu ser, para
sempre, o seu sorriso, pois se a
vida nos levar por caminhos
diferentes, eu terei você comigo,
mesmo estando temporariamente
separados.

Sabe, eu não sei se o amanhã chegará
para nós, mas sei que hoje, eu posso 
dizer a você o quanto é importante
para mim.
Seja você minha namorada, minha 
amante, minha mulher, uma amiga
talvez, você vai saber hoje, o quanto
é importante para mim.

Porque ... Se não houver amanhã...
Amanhã o sol será o mesmo mensageiro da luz, 
mas as circunstâncias, pessoas e coisas, poderão
ser ou estar diferentes.
Hoje significa o meu momento de agir, semear,
investir minhas possibilidades afetivas em favor
daqueles que convivem comigo.

Hoje é o melhor período de tempo
na direção do tempo sem fim...


Prof. Paulo de Lacerda

terça-feira, 21 de janeiro de 2014


Não me perguntes,
porque nada sei
Da vida,
Nem do amor,
Nem de Deus,
Nem da morte.
Vivo,
Amo,
Acredito sem crer,
E morro, antecipadamente
Ressuscitando.
O resto são palavras
Que decorei
De tanto as ouvir.
E a palavra
É o orgulho do silêncio envergonhado.
Num tempo de ponteiros, agendado,
Sem nada perguntar,
Vê, sem tempo, o que vês
Acontecer.
E na minha mudez
Aprende a adivinhar
O que de mim não possas entender.

Miguel Torga

Solidão


Aproximo-me da noite
o silêncio abre os seus panos escuros
e as coisas escorrem
por óleo frio e espesso

Esta deveria ser a hora
em que me recolheria
como um poente
no bater do teu peito
mas a solidão
entra pelos meus vidros
e nas suas enlutadas mãos
solto o meu delírio

É então que surges
com teus passos de menina
os teus sonhos arrumados
como duas tranças nas tuas costas
guiando-me por corredores infinitos
e regressando aos espelhos
onde a vida te encarou

Mas os ruídos da noite
trazem a sua esponja silenciosa
e sem luz e sem tinta
o meu sonho resigna

Longe
os homens afundam-se
com o caju que fermenta
e a onda da madrugada
demora-se de encontro
às rochas do tempo

Mia Couto

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

JukeBox


Amo-te...
com qualidade e defeitos...
com sonhos e frustrações...
com fantasmas e decepções...
com medos e força...
Amo-te...
como és...





Dou respeito às coisas desimportantes

e aos seres desimportantes.

Prezo insetos mais que aviões.

Prezo a velocidade

das tartarugas mais que a dos mísseis.

Tenho em mim esse atraso de nascença.

Eu fui aparelhado

para gostar de passarinhos.

Tenho abundância de ser feliz por isso.

Meu quintal é maior do que o mundo.




domingo, 19 de janeiro de 2014



Não esperes. 
Nada dura para sempre.

Se tivesses um amigo que nunca mais fosses ver... o que dirias? 
Se pudesses fazer uma última coisa por alguém que amas... o que seria? 
Diz. Faz. Não esperes. Nada dura para sempre.
Faz um pedido e guarda no teu coração. Qualquer coisa que quiseres. Tudo o que quiseres. Já o tens? Óptimo. Agora acredita que se pode tornar realidade. Nunca sabes de onde virá o próximo milagre. A próxima memória. O próximo sorriso. O próximo desejo que se tornará realidade. Mas se acreditares que está logo ali adiante, ao virar da esquina, e abrires o teu coração e a tua mente para essa possibilidade, para essa certeza, pode ser que consigas o que tanto querias. 
O mundo está cheio de magia. É só acreditar nela. 

Então pede um desejo. Agora... acredita nele. Com todo o teu coração. 
Óptimo. Já está!?


João Monge Ferreira

Que música escutas tão atentamente
que não dás por mim?

Que bosque, ou rio, ou mar?
Ou é dentro de ti
que tudo canta ainda?
Queria falar contigo,
dizer-te apenas que estou aqui,
mas tenho medo,
medo que toda a música cesse
e tu não possas mais olhar as rosas.
Medo de quebrar o fio
com que teces os dias sem memória.
Com que palavras
ou beijos ou lágrimas
se acordam os mortos sem os ferir,
sem os trazer a esta espuma negra
onde corpos e corpos se repetem,
parcimoniosamente, no meio de sombras?
Deixa-te estar assim,
ó cheia de doçura,
sentada, olhando as rosas,
e tão alheia
que nem dás por mim.

Eugénio de Andrade
Queria não me preocupar tanto com os outros... deixar correr... deixar de sofrer... deixar de sentir... talvez assim tivesse um pouco de Paz... um pouco de descanso... há momentos que é tão cansativo... que dói demais a indiferença, o descaso, o desdém...
Há momentos que parece que só sirvo para apagar fogos, de penso rápido, de pneu de socorro... há momentos em que me sinto descartável... sem valor... tipo usar e deitar fora...
Há momentos em que só me apetecia desaparecer...

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Tempo...



Dizem que o tempo ameniza
Isto é faltar com a verdade
Dor real se fortalece
Como os músculos, com a idade.

É um teste no sofrimento
Mas não o debelaria
Se o tempo fosse remédio
Nenhum mal existiria.

Emily Dickinson

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Tu Tens um Medo



Acabar.
Não vês que acabas todo o dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que te renovas todo dia.
No amor.
Na tristeza
Na dúvida.
No desejo.
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.
E então serás eterno.

Cecília Meireles

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

TALVEZ UM DIA DESISTA. MAS NÃO HOJE




(excerto)

Talvez um dia desista. Mas não hoje.
Não agora que estou a curar uma ressaca,
que tenho uma paixão por tudo o que me foge
porque o que me foge me provoca. E porque tudo
o que me provoca me entusiasma. E o que me entusiasma
exige o meu amor, a minha dedicação, a minha vida. Não 
a minha resignação, a minha entrega miserável àqueles
a quem quero dizer "vai-te lixar!", os que procuram
explodir os momentos mágicos,
porque a magia é a luz das coisas que acontecem
quando as coisas acontecem..

Talvez um dia desista. Mas não hoje.

Não agora que já não estou à espera.
Não agora que não me perco pelas ruas.
Não agora que o meu olhar é decidido.
Não agora que o mais belo, o mais simples, mudou tudo.
Não agora que o infinito está no pouco.
Não agora que os raios de sol me prendem às estrelas.
Não agora que a minha vontade é uma pátria.
Não agora que a eternidade é uma hora.
Não agora que é sábado todos os dias.
Não agora que sei que talvez um dia
desista. Mas não hoje.



Joaquim Pessoa

há momentos em que eu gostava de não me preocupar tanto com os outros... deixar de me preocupar por eles, pelos seus problemas, dúvidas e anseios... há momentos em que parece que eu só sirvo quando estão sós sem ninguém ao redor e que precisam de companhia, de uma almofada, de um pneu de socorro... há momentos em que penso que há quem só pense em mim quando necessita de algo... há momentos em que eu gostaria de ser lembrada, apenas por ser... apenas para saberem se estou bem ou se necessito de alguma coisa... há momentos em que  me sinto descartável, facilmente substituível, facilmente esquecida... até ao próximo tropeço que dão... há momentos que cansa... há momentos em que me sinto só... carregando aos ombros o meu mundo e o mundo dos outros... simplesmente só...

domingo, 12 de janeiro de 2014

Amei-te com as palavras



Amei-te com as palavras
com o verde ramo das palavras
e a pomba assustada do coração.

Amei-te com os olhos
o espelho doido dos olhos
e a sede inextinguível da boca.

Amei-te com a pele
as pernas e os pés
e todos os gritos que trago 
por debaixo da roupa.

Amei-te com as mãos
As mesmas com que te digo adeus.

Rosa Lobato de Faria

domingo, 5 de janeiro de 2014

FRIO


Proferiam outrora, a chuva fala, hoje acredito. Escuto, cá dentro, num peito enrugado, tela de melancolia, chamar o vento. Chegou. Um ritual mais antigo do que nós, chuva, vento e ar gélido. Chamam-se velho, forma ténue como nos ralha. Outros, nem todos, amam-no, tal a forma como ele proporciona o amor. Chegou. Chegou mesmo o Outono, transvestido de Inverno. Eu sou daqueles, dos velhos, que o amo, tal o jeitinho gostoso como ele nos permite amar. Amo a lareira acesa numa dança exótica oferecida pelas chamas, aprecio um copo de tinto, devoro um livro perdido entre conversas com a minha alma gémea. Amo o inverno, por nada ou por tudo, nem sei, apenas que é um silêncio que chega para nos fazer ouvir, coração que bate forte, ecos de esperança, calor da alma que sinto e arrepio. Abraça-me, sente... sabe bem, este frio.
Paulo Costa

Morro do que há no mundo:
do que vi, do que ouvi.
Morro do que vivi.
Morro comigo, apenas:
com lembranças amadas,
porém desesperadas.
Morro cheia de assombro
por não sentir em mim
nem princípio nem fim.
Morro: e a circunferência
fica, em redor, fechada.
Dentro sou tudo e nada.

Cecília Meireles

sábado, 4 de janeiro de 2014


"Ó noite onde as estrelas mentem luz, ó noite, única coisa do tamanho do universo, torna-me, corpo e alma, parte do teu corpo, que eu me perca em ser mera treva e me torne noite também, sem sonhos que sejam estrelas em mim, nem sol esperado que ilumine do futuro."
Fernando Pessoa
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança
tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida
a minha face? 

Cecília Meireles
há momentos em que me sinto descartável...

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014



A minha vida é um livro, cada página
está preenchida com amores e canções, poemas
onde a minha voz lavra a terra e cumprimenta os pássaros
e fala baixinho com os casulos da sombra e as borboletas
da luz. O meu amor está também no caminho que percorro,
na queixa deste planeta que tenho sob os pés,
o meu amor é imortal, é um archote que ilumina a carne,
que oferece ao meu sangue e aos meus ossos
uma alegria capaz de todos os afectos.
Acordo nos teus gestos, espreguiço-me
na cama das palavras onde nasce o amor, onde nasce
a ternura, onde nascem os filhos. Vou lavar
os olhos com o teu olhar, sorrir com o teu sorriso,
fazer perguntas a mim mesmo.
Tudo me pede que cante,
tudo me diz para cantar. E eu continuo
a interrogar-me, enquanto me dispo, enquanto ofereço
as minhas mãos ao teu corpo, enquanto
escrevo
o que o texto me pede.

Joaquim Pessoa

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014


vou buscar-te ao fim da tarde,
porque a noite só escurece contigo ao
meu lado, porque a noite aprende por ti
o caminho aberto das estrelas

vou buscar-te ao fim da tarde,
e verás como preparei a casa, como
escolhi a música, como, enfim, espalhei
os objectos mais impressionados contigo,
os que ganharam vida por se interporem
na espessura estreita que vai do meu
ao teu coração

e não mais devolvo, correndo todos os
riscos de não amanhecer nunca
numa loucura propositada por ti

não mais te devolvo,
ocuparás o mundo debaixo e sobre mim,
e não haverá mais mundo sem que seja assim
Valter Hugo Mãe

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014


Para ganhar um Ano Novo 
que mereça este nome, 
você, meu caro, tem de merecê-lo, 
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil, 
mas tente, experimente, consciente. 
É dentro de você que o Ano Novo 
cochila e espera desde sempre.

Carlos Drummond de Andrade

Oração pela paz



Cristo, quero ser instrumento de Tua

Paz e do Teu infinito amor

Onde houver ódio e rancor, que eu

Leve a concórdia, que eu leve o amor

Onde há ofensa que dói

Que eu leve o perdão

Onde houver a discórdia,

Que eu leve a união e Tua paz

Onde encontrar um irmão 

a chorar de Tristeza 

sem ter voz e nem vez

Quero bem no seu coração 

semear alegria 

pra florir gratidão

Mestre, que eu saiba amar

Compreender, consolar 

e dar sem receber

Quero sempre mais perdoar 

trabalhar na conquista 

e vitória da paz

Ama.
Lavar os dentes ao lado de quem amas.
Apalpar-lhe descaradamente o rabo.
Comer chocolates até te fartares.
Passar a noite a dizer asneiras.
Beijar sempre de língua.
Passar o dia a dizer asneiras.
Mandar o chefe bugiar.
Passar a vida a dizer asneiras.
Deixar declarações de amor escondidas pela casa.
Fazer o teu pai feliz.
Preguiçar regularmente.
Fazer a tua mãe feliz.
Atirar o despertador à parede periodicamente.
Fazer quem tu puderes feliz.
Dormir quinze ou vinte horas seguidas.
Pôr a mão de fora do vidro do carro.
Pintar o cabelo de azul ou de amarelo.
Pôr a cabeça de fora do vidro do carro.
Cantar no banho para todo o prédio ouvir.
Lamber a tampa dos iogurtes.
Correr que nem um louco na praia.
Falhar que nem um burro só porque tentas.
Praticar sexo oral com frequência.
Tentar que nem um burro só porque queres.
Mudar a decoração de casa num dia só.
Dançar quando estás feliz.
Passar horas só a cuidar de ti.
Dançar quando estás triste.
Dizer bem de quem amas.
Enfiar o dedo no nariz às escondidas.
Dizer bem de quem não amas.
Dançar enquanto estás vivo.
Guardar segredos inconfessáveis.
Experimentar posições sexuais improváveis.
Contar segredos inconfessáveis.
Ter segredos inconfessáveis.
Ver quanto dá o teu carro.
Dizer o que não se pode dizer.
Cagar assiduamente nas convenções sociais.
Sonhar com o que não pode acontecer.
O orgasmo sempre que puderes.
Coçar e ser coçado nas costas.
O gemido sempre que souberes.
Passar muitas horas a contar anedotas.
Adormecer todo torto no sofá.
Passar muitas horas a ouvir anedotas.
Rir que nem um desalmado.
Fazer um penteado estrambólico só porque te apetece mudar.
Rir por tudo e por nada.
Chorar a torto e a direito.
Rebolar na areia quando estás todo molhado.
Chorar porque também é um direito.
Abraçar o teu gato ou o teu cão.
Mandar a austeridade tomar no cu.
Beijar incansavelmente.
Não te levares minimamente a sério.
Dispensar quem te chateia.
Tocar um instrumento qualquer.
Perdoar quem é humano.
Desistir do que não te serve.
Lutar pelo direito à parvoíce.
Escrever um livro.
Dar prioridade ao prazer.
Ler um livro.
Nunca desistir de quem amas.
Aprender desvairadamente.
Fazer cadeirinha com quem amas.
Ensinar desvairadamente.
Perder a respiração pelo menos uma vez por dia.
Nascer pelo menos mais uma vez do que as vezes em que morreres.
Viver desvairadamente.
Te.

Pedro Chagas Freitas