domingo, 5 de janeiro de 2014

FRIO


Proferiam outrora, a chuva fala, hoje acredito. Escuto, cá dentro, num peito enrugado, tela de melancolia, chamar o vento. Chegou. Um ritual mais antigo do que nós, chuva, vento e ar gélido. Chamam-se velho, forma ténue como nos ralha. Outros, nem todos, amam-no, tal a forma como ele proporciona o amor. Chegou. Chegou mesmo o Outono, transvestido de Inverno. Eu sou daqueles, dos velhos, que o amo, tal o jeitinho gostoso como ele nos permite amar. Amo a lareira acesa numa dança exótica oferecida pelas chamas, aprecio um copo de tinto, devoro um livro perdido entre conversas com a minha alma gémea. Amo o inverno, por nada ou por tudo, nem sei, apenas que é um silêncio que chega para nos fazer ouvir, coração que bate forte, ecos de esperança, calor da alma que sinto e arrepio. Abraça-me, sente... sabe bem, este frio.
Paulo Costa

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