terça-feira, 31 de dezembro de 2013

"De tudo, ficaram três coisas:
A certeza de que estamos sempre começando...
A certeza de que precisamos continuar...
A certeza de que seremos interrompidos antes de terminar...
Portanto devemos:
Fazer da interrupção um caminho novo...
Da queda um passo de dança...
Do medo, uma escada...
Do sonho, uma ponte...
Da procura, um encontro..."

Fernando Pessoa

Queria ser essa noite que te envolve; e
cobrir-te com o peso obscuro dos braços
que não se vêem. Um murmúrio
desceria de uma vegetação de palavras,
enrolando-se nos teus cabelos como
secretas folhas de hera num horizonte
de pálpebras. Deixarias que te olhasse
o fundo dos olhos, onde brilha
a imagem do amor. E sinto os teus dedos
soltarem-se da sombra, pedindo
o silêncio que antecede a madrugada.
Nuno Júdice

domingo, 29 de dezembro de 2013


“De palavra em palavra 
a noite sobe 
aos ramos mais altos 
e canta 
o êxtase do dia.”
Eugénio de Andrade

Guardo numa gaveta de velhos objectos 
as tuas palavras, até que o bolor 
do futuro as apague - para que só eu 
saiba o que nunca me disseste. 

Nuno Júdice

sábado, 28 de dezembro de 2013


gosto do teu sorriso mas adoro o teu coração...

gosto do teu olhar mas adoro a tua alma...

gosto do teu jeito mas adoro a tua aura...

gosto de como és... qualidades e defeitos...

gosto do que sou quando estou contigo...

pois fazes-me querer ser uma melhor pessoa...

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Perto do mar a música é mais sábia



Perto do mar a música é mais sábia:

humaniza o seu som,

E põe nas suas cadências um estranho

... estremecimento do coração.


À sua modulação humana, junta

esse gemer, esse implorar

que vem do fundo dos séculos

para na areia cantar.


Perto do mar há ternuras novas

em sua plena virtude,

e é maravilha na maravilhosa

natureza em plenitude.


Com mais eternidade nos seus timbres

grande e humilde é simultaneamente.

À alma oferece o seu recolhimento

em milagroso germinar.


À alma oferece tudo o que é vida:

o devaneio, a dor,

e tudo se torna puro e luminoso

banhado em ritmo criador.


Pablo Neruda


Se alguém bater um dia à tua porta,
Dizendo que é um emissário meu,
Não acredites, nem que seja eu;
Que o meu vaidoso orgulho não comporta
Bater sequer à porta irreal do céu.

Mas se, naturalmente, e sem ouvir
Alguém bater, fores a porta abrir
E encontrares alguém como que à espera
De ousar bater, medita um pouco. Esse era
Meu emissário e eu e o que comporta
O meu orgulho do que desespera.
Abre a quem não bater à tua porta!

Fernando Pessoa

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013



Não te deixes amargar pelas decepções da vida... Olhando agora para aquilo que disse há todos estes anos atrás, olhando para todas as esperanças e sonhos que tinha, chego à conclusão que, se ter as coisas realizadas da forma como queremos for a medida para uma vida de sucesso, então alguns dirão que eu sou um fracasso! A coisa mais importante é não te deixares amargar pelas decepções da vida. Aprende a deixar o passado para trás! Eu reconheço que nem todos os dias serão ensolarados. Mas quando te encontrares perdido na escuridão e no desespero, lembra-te: é somente na escuridão da noite que podemos ver as estrelas. E são elas que nos podem guiar de volta para casa! Não tenhas medo de cometer erros, ou de tropeçar e cair... pois, na maioria das vezes, os melhores prémios vêm quando se faz aquilo que mais se teme. Talvez consigas tudo o que desejas. Talvez consigas mais do que alguma vez tenhas imaginado. Quem sabe onde a vida te levará?! A estrada é longa e, no fim, a jornada é o destino!

João Monge Ferreira

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013



Chove. É dia de Natal. 
Lá para o Norte é melhor: 
Há a neve que faz mal. 
E o frio que ainda é pior. 

E toda a gente é contente 
Porque é dia de o ficar. 
Chove no Natal presente. 
Antes isso que nevar. 

Pois apesar de ser esse 
O Natal da convenção, 
Quando o corpo me arrefece 
Tenho o frio e Natal não. 

Deixo sentir a quem quadra 
E o Natal a quem o fez, 
Pois se escrevo ainda outra quadra 
Fico gelado dos pés. 

Fernando Pessoa


Estou pertíssimo do Natal e vou conseguir. Mesmo não tendo
ainda dito que te amo, hoje é um daqueles dias em que se acredita em tudo, que não cheiram a tristeza, e mesmo a miséria
parece poderosamente descontraída. Gosto muito do ar, da roupa que usa o vento da manhã, e até o céu está tão generosamente baixo que parece querer entrar, também ele, pelas chaminés.
Toda a gente precisa de amor. E se não precisa só de amor, hoje parece não precisar de mais nada. O que tiver de acontecer,
acontece. Este não é o tempo para óptimas ideias. Está tudo
previsto. Tudo preparado. Tudo muito "isto é para si". Mas a generosidade já não é o que era. E as crianças também não. Cresceram, e agora parecem-se connosco.
Acredito que se passa alguma coisa de grave, mas hoje nem me
apetece saber o quê. Estou apaixonado pela incerteza, não quero esmiuçar as coisas. Só relacioná-las. Só saber o resultado da
sua soma. E hoje, tudo somado, dá isto: amanhã é dia de Natal.
Um acontecimento tão necessário como nevar no mar.

Joaquim Pessoa

Espírito das danças, espírito das estrelas,
espírito das crianças, espírito das velas,
espírito que te escondes nos risos e nas tranças,
nas músicas mais intensas e mais belas,
ó espírito que persistes, não desistes, e não cansas
de transformar esquecimentos em lembranças,
de trocar, por amor, desconfianças
e de pintar essas mudanças
com doces e brilhantes aguarelas,
espírito do mar, espírito do ar, das coisas mais singelas,
leva-me contigo ao país da noite, quando avanças
por entre estrelas apagadas, sem esperanças,
que eu gostaria tanto, mas tanto!, de acendê-las.

Joaquim Pessoa

Poema de Natal 


Percorro o dia, que esmorece

nas ruas cheias de rumor;

minha alma vã desaparece

na muita pressa e pouco amor.


Hoje é Natal. Comprei um anjo,

dos que anunciam no jornal;

mas houve um etéreo desarranjo

e o efeito em casa saiu mal.


Valeu-me um príncipe esfarrapado

a quem dão coroas no meio disto,

um moço doente, desanimado…

Só esse pobre me pareceu Cristo.


Vitorino Nemésio

domingo, 22 de dezembro de 2013


Eu não duvido do poder da música. Em um dia preto e branco ela me colore. Em um momento de tristeza ela traz de volta um meio sorriso. Em uma situação delicada ela me socorre.

Eu não duvido do poder do abraço. Ele transforma corações. Aproxima uma alma da outra. É a ponte para o reencontro. Traz de volta a paz. Remove qualquer impureza do espírito.

Eu não duvido do poder da chuva. Ela manda embora toda a desgraça, desamor e sujeira. Deixa tudo mais puro e renovado.

Eu não duvido do poder de um sorriso. Ele quebra qualquer gelo, desmonta uma cara feia, desarma quem trouxe munição no peito.

Eu não duvido do poder do olho no olho. Ele traz a confiança, a vontade de acreditar, a certeza de que ainda existe salvação.

Eu não duvido do poder do sol. Ele traz a saúde, devolve a beleza e de quebra ainda esquenta quem já congelou por dentro há tempos.

Eu não duvido do poder do perdão. Ele faz as cicatrizes ficarem mais suaves, devolve o viço da pele, ilumina o dia e o passado.

Eu não duvido do poder do amor. Ele traz o apoio, oferece o suporte, segura forte a mão, ajuda a segurar qualquer fardo, por mais pesado que possa parecer.

Eu não duvido do poder da fé. Ela ampara, acalenta, acolhe, aconchega, nos pega no colo e cantarola uma linda canção de ninar.

Eu não duvido do poder da vida. Ela ensina, reconstrói, resgata, ajuda, reencontra. E cura.


Clarissa Corrêa 


sábado, 21 de dezembro de 2013



Creio nos anjos que andam pelo mundo,
Creio na deusa com olhos de diamantes,
Creio em amores lunares com piano ao fundo,
Creio nas lendas, nas fadas, nos atlantes,

Creio num engenho que falta mais fecundo
De harmonizar as partes dissonantes,
Creio que tudo é eterno num segundo,
Creio num céu futuro que houve dantes,

Creio nos deuses de um astral mais puro,
Na flor humilde que se encosta ao muro,
Creio na carne que enfeitiça o além,

Creio no incrível, nas coisas assombrosas,
Na ocupação do mundo pelas rosas,
Creio que o amor tem asas de ouro. Ámen.


Natália Correia

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013


Felizmente
Gosto de coisas simples
E de gente complicada,
Que pensa, que sofre,
Que luta, que fala!
Que não desiste de ser feliz.
Mesmo que ser infeliz
Seja mais fácil!
Gosto de andar descalça
Mas gosto de gente calçada,
Educada, inteligente.
Gente boa, exigente.
Gente sã, gente que é gente,
Felizmente!

Helena Sacadura Cabral

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

"O meu tempo não é o seu tempo. O meu tempo é só meu.
O seu tempo é seu e de qualquer pessoa, até eu. 
O seu tempo é o tempo que voa. O meu tempo só vai onde eu vou. 
O seu tempo está fora, regendo. O meu dentro, sem lua e sem sol. 
O seu tempo comanda os eventos. O seu tempo é o tempo, o meu sou. 
O seu tempo é só um para todos, o meu tempo é mais um entre muitos. 
O seu tempo se mede em minutos, o meu muda e se perde entre os outros. 
O meu tempo faz parte de mim, não do que eu sigo. 
O meu tempo acabará comigo no meu fim."

Arnaldo Antunes

domingo, 15 de dezembro de 2013


O que faz andar a estrada?
É o sonho. Enquanto a gente sonhar
A estrada permanecerá viva.
É para isso que servem os caminhos,
Para nos fazerem parentes do futuro
Mia Couto

Generosidade


Generosidade não tem só a ver com quem tem bens materiais e que os reparte pelos outros.
Generosidade está na alma, no coração, nas pequenas atitudes, em pequenos gestos.
Generoso é quem tira um pouco do seu tempo para ouvir alguém que está sozinho, para conversar com o vizinho que não tem mais ninguém.
Generoso é quem liga para um amigo que não vê há muito tempo, só para dizer que gosta dele.
Generosidade é fazer um bolo para a família e oferecer uma fatia à vizinha do lado, que por acaso até já é velhinha e vive sozinha.
Generoso é oferecer-se para ir comprar os remédios a alguém que tem dificuldade em andar.
Generosidade é ir a casa de um familiar ou amigo e ajudá-lo a arrumar a casa ou lavar-lhe a louça.
Generoso é aquele que convida os amigos ou os familiares para jantar ou almoçar e assim oferecer-lhes a sua companhia.
Generosidade é dar alguma coisa que temos a alguém que gostou muito daquilo e que vimos nos seus olhos que adorava ter uma coisa igual.
Para ser generoso não é preciso ser rico, nem ter muitos bens materiais. Basta ter bom coração, basta não ser egoísta, basta querer.

Ana Silvestre

A Vida


A vida, as suas perdas e os seus ganhos, a sua 
mais que perfeita imprecisão, os dias que contam 
quando não se espera, o atraso na preocupação 
dos teus olhos, e as nuvens que caíram 
mais depressa, nessa tarde, o círculo das relações 
a abrir-se para dentro e para fora 
dos sentidos que nada têm a ver com círculos, 
quadrados, rectângulos, nas linhas 
rectas e paralelas que se cruzam com as 
linhas da mão; 

a vida que traz consigo as emoções e os acasos, 
a luz inexorável das profecias que nunca se realizaram 
e dos encontros que sempre se soube que 
se iriam dar, mesmo que nunca se soubesse com 
quem e onde, nem quando; essa vida que leva consigo 
o rosto sonhado numa hesitação de madrugada, 
sob a luz indecisa que apenas mostra 
as paredes nuas, de manchas húmidas 
no gesso da memória; 

a vida feita dos seus 
corpos obscuros e das suas palavras 
próximas. 

Nuno Júdice

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Vivemos de pequenos nadas...



Aquela sensação de acordar a meio da noite e simplesmente ouvir. Ouvir o silêncio, através do qual rompe o barulho da chuva que cai constante e calma. Olhar para o relógio e perceber que ainda nos faltam duas horas e trinta minutos de sono bom pela frente. Sentir o calor que provém do vale de mantas em que nos encontramos e que sabemos certo. No meio de todos estes pequenos nadas que teimamos em ignorar, não há cinzento na alma que consiga sair vitorioso. 
E se nada mais valer a pena agradecer hoje, já tenho este momento madrugador como detentor de honra do melhor prémio que podemos dar a nós próprios: viver!

João Monge Ferreira

Renascer


Quero viver como as flores,

sem levar saudade das primaveras,

quero somente ter

a alegria de alcançar o infinito

e num mundo de cores

renascer.

Quero viver como as nuvens,

refazendo minhas formas no espaço,

levando esperança a todo canto,

quero me abrigar deste cansaço,

morrer, vivendo,

sem nenhum espanto.

Quero viver como os rios 

que livremente se dão oceanos,

que se lançam,

sem temor,

arrastando mágoas, desenganos,

quero levar por vilas e cidades

enchentes de amor.

Quero viver como as manhãs,

sentindo o despertar de cada sol,

quero a luz do dia, 

penetrando em mim,

mostrar ao mundo inteiro,

fazer crer 

que morte não é fim,

quero ser manhã

para ser capaz de anoitecer.


Ivone Boechat

Com Palavras


Com palavras me ergo em cada dia!
Com palavras lavo, nas manhãs, o rosto
e saio para a rua.
Com palavras - inaudíveis - grito
para rasgar os risos que nos cercam.
Ah!, de palavras estamos todos cheios.
Possuímos arquivos, sabemo-las de cor
em quatro ou cinco línguas.
Tomamo-las à noite em comprimidos
para dormir o cansaço.
As palavras embrulham-se na língua.
As mais puras transformam-se, violáceas,
roxas de silêncio. De que servem
asfixiadas em saliva, prisioneiras?
Possuímos, das palavras, as mais belas;
as que seivam o amor, a liberdade...
Engulo-as perguntando-me se um dia
as poderei navegar; se alguma vez
dilatarei o pulmão que as encerra.
Atravessa-nos um rio de palavras:
Com elas eu me deito, me levanto,
e faltam-me palavras para contar...

Egito Gonçalves


terça-feira, 10 de dezembro de 2013

O vento




Pelo secreto e espesso bosque da penumbra

que dolorosas viagens as indefesas figuras realizam

que terríveis segredos lhes revelam

pois se quedam assim emudecidas

e que brandura os líquenes adivinham

para crescer nelas e não em nós



Não te posso hoje dar nenhum certeza

e se soprar o vento neste jardim de Villa Borghese

quem sabe talvez tudo voe



E destes nomes só um resíduo

uma réstia de alegria permaneça

a iluminar toda a vida



José Tolentino Mendonça

Quando é que isto começou?
Isto, o quê?
Isto.
O amor?
Talvez.
O amor?
Sim, pode ser isso. Quando é que o amor começou?
Começou antes de ter começado.
E depois?
E depois não acabou quando devia acabar. 
Durou mais tempo. 
O coração bate mais tempo. 
Não há maneira de parar o coração.

Pedro Paixão

domingo, 8 de dezembro de 2013



Ser o que nasceu connosco.
Ser o que descobrimos que somos.
Ser a brutalidade da vida que nos habita.
Ser a escuridão que nos apaga o sorriso.
Ser a coragem de viver o desencanto.
Ser o que escolhemos, as sobras do que poderíamos ter sido.
Ser todas as inclinações que nos arrasam.
Ser o corpo que se deu e se derramou.
Ser tudo - e é tanto - e aguentar ser tão pouco...

És tu que eu quero, e depois?

sábado, 7 de dezembro de 2013




"Incrível a doçura que algumas pessoas carregam.. é só a gente chegar perto e já se sente mais leve. Elas dão um sorriso, e a gente se sente uma imagem refletida em um espelho, porque automaticamente um sorriso cai dos nossos lábios também.

Tem gente que é assim mesmo, gosta de gentileza, educação, gargalhadas, gosta de ouvir, gosta de cativar..

Tem gente que quando está do nosso lado, nos faz esquecer que inventaram relógio, celular, facebook... Tem gente que nos faz lembrar que não existe uma rede social mais gostosa do que uma em que a gente divide com quem a gente gosta, uma em que a gente pode ouvir o som da risada do outro, segurar na mão e dizer: pode contar comigo, é dar um abraço, é olhar nos olhos... Que bom que com esse mundo todo do avesso, ainda existem gente andando com asas invisíveis..

Tem gente que nem sabe, e tem um baita "quê" de anjo..."

Rayssa Irioda

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013


Silêncio 
Assim como do fundo da música
brota uma nota
que enquanto vibra cresce e se adelgaça
até que noutra música emudece,
brota do fundo do silêncio
outro silêncio, aguda torre, espada,
e sobe e cresce e nos suspende
e enquanto sobe caem
recordações, esperanças,
as pequenas mentiras e as grandes,
e queremos gritar e na garganta
o grito se desvanece:
desembocamos no silêncio
onde os silêncios emudecem.

Octávio Paz

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013



Arrepia-me...
Arrepia-me a força do destino. 
Arrepia-me o silêncio que fala. 
Arrepia-me a nobreza do ser humano. 
Arrepia-me o olhar e o toque sincero. 
Arrepiam-me os sentimentos que vão, 
de coração a coração, 
traduzidos em lágrimas de surpresa, 
de memória, de carinho, de amor.

João Monge Ferreira

Hoje estou sensível
a qualquer palavra, 
a qualquer gesto 
a qualquer coisa. 
Hoje me limito a não dizer, 
a não fazer,ou entender. 
Quero somente que minha solidão, 
me acalme e me diga o que melhor fazer.

Patty Vicensotti


Não tenhas medo, ouve:
É um poema
Um misto de oração e de feitiço...
Sem qualquer compromisso,
Ouve-o atentamente,
De coração lavado.
Poderás decorá-lo
E rezá-lo
Ao deitar,
Ao levantar,
Ou nas restantes horas de tristeza
Na segura certeza
De que mal não te faz.
E pode acontecer que te dê paz...

Miguel Torga

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013


De há umas semanas para cá sinto-me um peso, uma desilusão, um estorvo... sinto que fiz ou disse algo que me colocou nessa situação... o quê? pergunto-me constantemente, mas sem encontrar resposta... não sei... sinceramente, já nada sei... apenas o que sinto... uma sensação de inutilidade, um incómodo, um obstáculo...

"Há tanta suavidade
Em nada se dizer
E tudo se entender 
Tudo metade
De sentir e de ver..."

Fernando Pessoa

Solidão




Estás todo em ti, mar, e, todavia, 
como sem ti estás, que solitário, 
que distante, sempre, de ti mesmo! 

Aberto em mil feridas, cada instante, 
qual minha fronte, 
tuas ondas, como os meus pensamentos, 
vão e vêm, vão e vêm, 
beijando-se, afastando-se, 
num eterno conhecer-se, 
mar, e desconhecer-se. 

És tu e não o sabes, 
pulsa-te o coração e não o sente... 
Que plenitude de solidão, mar solitário! 

Juan Ramón Jiménez