quinta-feira, 28 de novembro de 2013


Gosto de ti, ó chuva, nos beirados, 
Dizendo coisas que ninguém entende! 
Da tua cantilena se desprende 
Um sonho de magia e de pecados. 

Dos teus pálidos dedos delicados 
Uma alada canção palpita e ascende, 
Frases que a nossa boca não aprende 
Murmúrios por caminhos desolados. 

Pelo meu rosto branco, sempre frio, 
Fazes passar o lúgubre arrepio 
Das sensações estranhas, dolorosas... 

Talvez um dia entenda o teu mistério... 
Quando, inerte, na paz do cemitério, 
O meu corpo matar a fome às rosas! 

Florbela Espanca

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